8.1.11

pra minha vó.

Madrugada. A garoa fina paulistana. O vento frio nas gotinhas pelos braços nus.

Escuro, vazio. Silêncio. Só os galhos das árvores, úmidas, sacudidos pelo vento. Gotas salgadas dos olhos e gotas geladas da chuva, misturadas no rosto, no peito, na calça. A pedrinha branca guardada.

Flores amarelas. Mar.
Mar de flores amarelas. O rosto envolto nas pétalas.
Ao redor, cada pétala da família desabando, sem caule.

O dia amanhece. A garoa permanece. Cinza.
O cortejo pelo trânsito cinza de sábado de manhã. Viadutos, carros, rostos.
Cinzas.

A arena. Vermelha.
Lenços, lenços, abraço, ombro. Fundo.
O fogo vermelho. O adeus.

Garoa insistindo. As lágrimas também.
Árvores escurecidas por tanta água. Os altares nas suas bases. Flores coloridas, pedras num círculo.

O círculo que se fecha. Completo.
Fica o oco. Vácuo.
Cadê?

Os vidrinhos de perfume, as porcelaninhas, as folhinhas no chão, as roupas no armário.
À espera...

A espera é branca, asséptica.

A força se esvai. Meu rosto molhado, sem expressão.
Simples dor. O estado puro dela. Nosso.





6/dez./10

2 comentários:

edu brito da silveira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
edu brito da silveira disse...

É, a espera é branca. Tantos círculos... E as suas letras pretas doídamente lindas sobre o azul. Beijo.