21.5.10

sobre o contrário de tudo o que devíamos ter aprendido

livre-reflexão-desabafo sobre o processo de Interpretação I, ministrado pela nebulosa Maria Thaís.
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...tentativas tentativas tentativas.
...frustrações.
...quando vamos começar a acertar?
...‘escolha entre o campo das dúvidas e o campo das certezas’.
...por que, ainda assim, prefiro o das certezas?
...ou melhor, por que alguém, em sã consciência, escolheria o das dúvidas?
...Rilke deixa de fazer sentido. não consigo, por ora, respeitar o tempo das minhas próprias perguntas.
...quero respostas, saídas, apontamentos, notas dez, sinais verdes.
...minha ‘coragem para o ato de criação’ esvai-se.
...não aceito meus limites. são demasiado numerosos para fazê-lo.
...quero a ideia pronta, o jogo feito, a relação construída.
...
quero a chegada. cansei do caminho.
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maio/10

sombra

O ar espaçado
.....espaço gelado

Voa no céu azul
.....pássaro
..........indiferente
passado

Os olhos se fecham à luz
.....Muro claro refletor

Nuvem.


.......................................maio/10

12.5.10

O Drama Naturalista de Ibsen

Trabalho realizado para a matéria de História do Teatro III, ministrada pelo professor Welington Andrade
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Henrik Ibsen viveu, com 20 anos de idade, a Revolução de 1848. Segundo Robert Pignarre, transporta esse ideal libertário para o domínio da vida interior: a liberdade começa por ser a conquista de nós mesmos. Eu acredito que seja essa, por exemplo, a principal característica da sua peça Casa de Bonecas [1]. Nora, após ser um bibelô do marido por anos, toma finalmente a decisão de sair de casa em busca dela mesma, abandonando a família para exercer sua liberdade e aprender a existir por si mesma.
...Para Tereza Menezes, as peças de Ibsen buscam acentuar a possibilidade de escolha, a intencionalidade das ações individuais, como um dever do homem para consigo mesmo, uma necessidade vital de ouvir e seguir os próprios desejos [2]. A meu ver, tal é a essência que continua atual nas peças de Ibsen: a busca pelo eu. Ainda precisamos, talvez mais do que nunca, saber ouvir e seguir nossos próprios anseios, visto que vivemos tempos conformistas e resignados. A nossa sociedade de con-sumo é marcada pela grande dificuldade em identificar os desejos profundos e individuais. Nesse contexto, são vendidas constantemente falsas promessas de felicidade, que, relacionadas ao consumo capitalista, ocupam superficialmente o lugar que a verdadeira busca pelo indivíduo deveria ocupar. Ou seja, eu me contento em comprar um carro da marca “x” e me sinto feliz e realizada com isso. A realização pessoal deixa de se relacionar com os desejos íntimos e passa a ser determinada por conceitos massificados (“comprar o tal carro ‘x’ traz felicidade”).
...Menezes diz: “A única alternativa ao desespero humano é a autocriação por opção consciente, pela busca do autoconhecimento que persiga um ‘eu ideal’” [3]. Há algo mais contemporâneo do que esse desafio?
...A dificuldade, superada por Nora, de descobrir sua própria lei e de se manter fiel a ela dialoga com isso, tema recorrente em Ibsen. O autor parte de uma crítica à sociedade burguesa para logo passar a uma espécie de meditação sobre o humano, conseguindo com as personagens cotidianas, no contexto familiar, a propósito de interesses mais ou menos sórdidos, restaurar a tragédia.
...Segundo Pignarre, Ibsen muitas vezes recorre a símbolos cuja “insistência didática” pode ser considerada falsa poesia ou falsa profundidade. O crítico afirma ser por causa desses símbolos que a obra de Ibsen marcou o seu tempo, mas é também por causa deles que tem envelhecido.
...Já Bernard Shaw defende que o teatro moderno começou no momento em que Ibsen escreveu Casa de Bonecas, e Nora convida o marido para sentar-se e discutir o casamento. Ele via o objetivo do drama naturalista na discussão de conflitos psicológicos e tradicionais. O palco convertia-se em cenário de debates [4].
...Assim, a nova forma do drama era exposição, situação e discussão, e não mais desfecho [5]. Es-se era outro aspecto inovador de Ibsen: a não conclusão do final. As peças terminavam de maneira aberta, necessitando uma reflexão interna por parte do espectador. Aí também há característica prezada na contemporaneidade: conflitos que não se resolvem explicitamente na peça e que permitem que a plateia pense sozinha, faça relações com a sua vida e exercite o senso crítico.
...Com diálogos ricos e econômicos, há a confrontação de personagens em uma situação limite, do qual surge um indivíduo novo, com um novo olhar sobre si mesmo. Mais uma vez, Casa de Bonecas é ótimo exemplo desse nascimento de uma nova perspectiva, experimentado por Nora.
...A maioria do personagens ibsenianos não possui resolução nem definição precisa de seu caráter. É fácil identificar muitas dimensões e intenções deles. Desse modo, é impossível julgar seus comportamentos como certos ou errados, já que o parâmetro não é o das regras socialmente estabelecidas e aceitas, mas o oposto, o da possibilidade de contestá-las e do indivíduo perceber e afirmar sua vontade pessoal.
...Assim sendo, Ibsen não busca um julgamento moral, suas indagações referem-se à possibilidade de um indivíduo construir seu próprio destino. Como afirma Menezes, “Ao dar mais importância para o questionamento de valores e idéias do que para o enredo, ele estava enfatizando a grande característica e especificidade do teatro, ou seja, o conflito” [6].
...Para ela, o efeito desorganizador do juízo do público obriga-o a repensar os conceitos que havia formado até aquele momento da peça e o torna, eventualmente, capaz de reconstruí-los em novas bases. Peter Szondi afirma: “a tragicidade do mundo burguês não reside na morte, mas na própria vida” [7].
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[1] PIGNARRE, 1979, p. 120.
[2] MENEZES, 2006, p. 59.
[3] Ibid., p. 81.
[4] BERTHOLD, 2008, p. 460.
[5] MENEZES, 2006, p. 57.
[6] Ibid., p. 71.
[7] SZONDI, 2001, p. 46.
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Bibliografia
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BERTHOLD, Margot. História Mundial do Teatro. São Paulo: Perspectiva, 2008.
MENEZES, Tereza. Ibsen e o Novo Sujeito da Modernidade. São Paulo: Perspectiva, 2006.
PIGNARRE, Robert. História do Teatro. Portugal: Publicações Europa-América, 1979.
SZONDI, Peter. Teoria do Drama Moderno. São Paulo: Cosac & Naify, 2001.